Provavelmente um dos maiores trunfos do filme Lincoln, de
Steven Spielberg, que mostra o ex-presidente norte americano que conseguiu a
abolição da escravatura e o fim da Guerra de Secessão nos EUA, é mostrar um
líder humano, com erros e acertos, dúvidas e certezas.
O longa, com 12 indicações ao Oscar, estreou no Brasil e já
arrecadou R$ 2 milhões por aqui, segundo a Filme B, e US$ 182 milhões em todo o
mundo, segundo o site Mojo. Interpretado por Daniel Day-Lewis, o Lincoln de
Spielberg e do ator britânico coloca seus ideais e visão acima de tudo (e,
muitas vezes, de todos), conquista apoio pelo dom da oratória e atinge,
finalmente, resultados e metas. Qualquer semelhança com o mundo corporativo não
é mera coincidência.
Entrevistamos coaches que analisaram o filme e extraíram
dele os erros e acertos de Abraham Lincoln, cujas frases (que você lê nesta
matéria) são reproduzidas com frequência.

2. Respeite as regras: no filme, Lincoln resiste a dar
dinheiro aos congressistas do partido Democrata, mas aceita dar empregos para
que eles votem a favor da emenda abolicionista. Um presidente (ou
ex-presidente) pode até sobreviver a um escândalo como esses. Mas uma atitude
destas pode significar a morte de uma empresa.
3. Cuidado para não virar um ditador: símbolo da
recém-conquistada democracia nos EUA, Lincoln chega a ser apontado como um
ditador por insistir na luta pela abolição, enquanto adia o fim da guerra, o
que implica um número maior de morte de civis. Reis compara Lincoln com o
personagem do Mito da Caverna, de Platão. Na parábola, os homens moram em uma
caverna e só conhecem o mundo por sombras. Um dos acorrentados foge, vê as
coisas como elas são e volta para contar, mas acaba morto por seus
companheiros. “Todo indivíduo que se sobressai na sociedade tem de fazer uma
escolha. Geralmente ele escolhe algo que ninguém vê. E daí tem que dizer a que
veio. O líder não pode ficar em cima do muro. Tem que escolher um lado e pular.”
4. Tenha visão e comprometa-se: em uma coisa os
especialistas são unânimes. Lincoln é considerado um líder visionário e
comprometido. Para Eliana Dutra, diretora executiva da Pro-Fit Coaching, ele
tinha a capacidade de criar uma visão inspiradora e de explicar suas decisões
com base racional, cobrindo tudo com um molho de humanidade. “Um líder
paupável, mais próximo ao interlocutor.” Na opinião de Homero Reis, Lincoln era
capaz de estar comprometido com as questões de seu tempo, sabia cultivar sua rede
de relacionamento e tinha bom humor. “Dentro das organizações, esses são os
líderes mais valiosos.”
5. Delegue: ele deixa espaço para sua equipe ir a campo.
Mostra confiança, oferece segurança, monitora e intercede se necessário. O
acordo com os democratas é todo feito pelo secretário de Estado e sua equipe.
6. Oriente. Sempre: além de delegar, o ex-presidente se
reúne frequentemente com os liderados para averiguar resultados alcançados e
mostrar o caminho para atingir a meta.
7. Compartilhe o poder: Lincoln incentivava sua equipe a
assumir responsabilidades, gerando maturidade profissional. “Isso dá segurança
e capacidade de resolução de problemas, mesmo diante de situações críticas”,
diz Van.
8. Recheie seu discurso com empatia: grande parte do poder
de oratória de Lincoln está no fato de ele conseguir mapear o interlocutor e,
por meio de suas histórias, criar um link emocional (ou racional) com ele. Um
bom exemplo é a cena em que Lincoln conversa com um operador de telégrafo.
Primeiro ele pergunta sua profissão. Ao saber que o personagem havia se formado
em engenharia, cita uma teoria de Euclides para falar sobre igualdade.
9. Foque na solução: todas as probabilidades estavam contra
Lincoln. O ex-presidente não tinha o apoio do Congresso para a aprovação da
emenda abolicionista, a guerra (seu maior argumento para acabar com a
escravidão) estava para acabar e a maioria da população norte americana não
queria o fim da escravatura. Em vez de se sentir paralisado pelas dificuldades,
o ex-presidente gastava sua energia encontrando soluções para cada uma dessas
questões.
10. Cuide do seu equilíbrio emocional: apesar se ser um
líder querido, Lincoln foi questionado por muitos de seus liderados. A primeira
reação de qualquer ser humano frente a uma crítica é sentir raiva. “Quando você
tem uma visão muito firme, o primeiro impulso é querer impor. ‘Como assim vocês
não estão enxergando?’ Ele percebe que se não entrasse no mundo das pessoas e
entendesse como elas pensavam, não conseguiria adesão. As pessoas pecam na
falta desse equilíbrio emocional”, diz Van.
11. Vença sua batalha interna: administrar os republicanos,
conquistar o voto dos democratas, convencer seus liderados sobre seus ideais e
ainda lidar com os dramas familiares, definitivamente, não é para os fracos.
Todo líder passa por esse dilema. Os bons líderes conseguem gerenciar todas
essas questões ao mesmo tempo, sem cair na insegurança – o que acaba levando a
decisões equivocadas.
12. Tenha a coragem de mudar de ideia: em uma cena, Lincoln
mostra seu único momento de hesitação. Ele está prestes a ceder e terminar a
guerra, mesmo sem a aprovação da emenda abolicionista. Chega a ditar a mensagem
ao operador de telégrafo, mas muda de ideia. “O ser humano que não tem dúvidas
está se enganando. Não justifico o líder que senta em cima das decisões e nunca
define nada. Mas aquela coisa rígida de ‘eu tenho sempre razão’ é ruim e não é
crível”, diz Eliana. Por mais que o líder acredite em algo, aquele é só um lado
da verdade.
13. Não seja ingênuo: mesmo o mais querido líder das
corporações nunca será uma unanimidade. Mas, no fim do dia, ele precisa ter
mais seguidores que inimigos. Para tanto, use e abuse da diplomacia. “Há sempre
o risco da demissão ou de ser colocado de lado. É um jogo, no qual é preciso
medir as consequências. Os inimigos que não vão gostar do resultado são maiores
ou menores que os beneficiados?”, questiona Van. Reis completa: “todos nós
temos pessoas que jogam contra. Todos nós temos pessoas que nos seguem. É
preciso conviver com isso com sabedoria.” Já para Eliana, ter mais seguidores
que inimigos é fundamental para a sobrevivência do executivo. “O líder que não
tem seguidores é só um sujeito dando um passeio.”
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